Edgar Morin - O arquiteto da complexidade
Sociólogo francês propõe a religação dos saberes com novas concepções sobre o conhecimento e a educação
Márcio Ferrari (novaescola@atleitor.com.br)
Para
Pré-história do saber
Acima de tudo, o sociólogo francês defende a introdução da incerteza e da falibilidade na rigidez cultural do Ocidente. As limitações causadas pela compartimentação do conhecimento, de acordo com o educador, são responsáveis por manter o espírito humano em sua pré-história. Além disso, a tendência de aplicar conceitos abstratos vindos das ciências exatas e naturais ao universo humano resulta em desconsideração por aspectos como o ambiente, a história e a psicologia, entre outros.
Um exemplo, diz o pensador, é a economia, a mais avançada das ciências sociais em termos matemáticos e a menos capaz de trabalhar com regularidades e previsões.
A Era da Incerteza
O
início do século 20 foi marcado por duas revoluções científicas: a teoria da
relatividade de Albert Einstein (1858-1947) e a mêcanica quântica de Max Planck
(1879-1955). Ambas obrigaram a humanidade a rever doutrinas e tiveram
aplicações nas mais diversas áreas, da filosofia à indústria bélica. A teoria
quântica, por exemplo, derrubou certezas da Física e as substituiu pela noção
de probabilidade. A relatividade pôs em questão os conceitos de espaço e tempo.
Para completar, na termodinâmica, Niels Bohr (1885-1962) chegou à necessidade
de tratar as partículas físicas tanto como corpúsculos quanto como ondas.
Quando tudo parecia incerto e relativo, a teoria do caos, já na segunda metade
do século, veio, de certa forma, na direção oposta, ao demonstrar que também
nos sistemas caóticos existe ordem. Essas e outras reformulações do
conhecimento humano levaram Morin a definir sete "princípios-guia" da
complexidade, interdependentes e complementares. São eles os princípios sistêmico
(o todo é mais do que a soma das partes), hologramático (o todo está em cada
parte), do ciclo retroativo (a causa age sobre o efeito e vice-versa), do ciclo
recorrente (produtos também originam aquilo que os produz), da
auto-eco-organização (o homem se recria em trocas com o ambiente), dialógico
(associação de noções contraditórias) e de reintrodução do conhecido em todo
conhecimento.
Para recuperar a complexidade da vida nas ciências e nas atividades humanas, Morin recomenda um pensamento crítico sobre o próprio pensar e seus métodos, o que implica sempre voltar ao começo. Não se trata de círculo vicioso, mas de um procedimento em espiral, que amplia o conhecimento a cada retorno e, assim, se coaduna com o fato de o homem ser sempre incompleto – o aprendizado é para toda a vida. "A reforma do pensamento pressupõe a consciência de si e do mundo", diz Izabel Cristina. "Ela decorre da reforma das instituições e vice-versa."
Nos processos em espiral, é necessário conhecer os conceitos de ordem, desordem e organização. Do ponto de vista da complexidade, ordem e desordem convivem nos sistemas. O que diferencia o todo da soma das partes é o que Morin denomina comportamento emergente. Nos seres humanos, a dinâmica entre ordem e desordem se subordina à idéia de auto-eco-organização: a transformação extrapola o indivíduo, se estendendo ao ambiente circundante. Uma vez que tudo está interligado, a solidariedade é tida pelo sociólogo como peça fundamental para superar aquilo que denomina crise planetária – uma situação de impotência diante de incertezas que se acumulam.
A Cabeça Bem-Feita, Edgar Morin, 128
págs., Bertrand Brasil, tel. (21) 2585-2000, 25 reais
A Religação dos Saberes, Edgar Morin, 588 págs., Ed. Bertrand Brasil, tel. (21) 2585-2000, 69 reais
Edgar Morin - A Educação e a Complexidade do Ser e do Saber, Izabel Cristina Petraglia, 120 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2246-5552, 20 reais
Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, Edgar Morin, 118 págs., Ed. Cortez, 22 reais
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