making off de Realidade inventadA
“A arte
existe para que a realidade não nos destrua”
Fernando Pessoa
Sabemos que hoje são múltiplas as
realidades e os modos de viver. O nosso mundo contemporâneo pode ser adjetivado
como complexo, múltiplo, rápido, ambíguo, caótico, paradoxal, difuso,
incerto... Não nos opomos a isso e nem podemos avaliar como bom ou ruim. Foi
essa realidade que inventamos para viver e viver é bom e belo. Se existir
é o caminho e ser, pressupõe uma invenção constante, então está em
nossas mãos o poder de criar realidades melhores e mais bonitas.
um Deus, um bicho, um universo, um
anjo...
é preciso que alguém tenha
consciência dele.
Ou simplesmente que o tenha
inventado”
Mário Quintana
A arte exerce um papel importante na extensão dessa realidade quando
realimenta o nosso instinto renovador e transformador do real. A criação
artística pode envolver não apenas o desenvolvimento de habilidades, mas
principalmente exercitar a imaginação para o desenvolvimento de
diferentes e inusitadas possibilidades, que poderão ultrapassar o real e assim
renovar o nosso viver.
“ A imaginação, ao tornar o mundo presente em imagens, nos faz
pensar, Saltamos dessas imagens para outras semelhantes, fazendo uma síntese
criativa. O mundo imaginário assim criado não é real. É antes, pré-real, isto
é, antecede o real porque aponta suas possibilidades ao invés de fixa-lo numa
forma cristalizada. Assim a imaginação alarga o campo real percebido, preenchendo-o
de outros sentidos.”
Maria Helena Martins. Introdução á
Filosofia Moderna
Quando tornamos o mundo presente em imagens e refletimos, nossa capacidade de
“ver” se amplia. Os conceitos e as idéias vão se formando em um campo de analogias,
simetrias e contraposições que se alargam suscitando novas e inusitadas
possibilidades.
O peito era maior que
o céu aberto.
Parávamos. E sabeis
Que o que contenta mais o peito inquieto
É olhar ao redor como quem vê
E silenciar também como quem ama.
Éramos muitos? Ah, sim
Eram muitos em mim."
Hilda Hist
Parávamos. E sabeis
Que o que contenta mais o peito inquieto
É olhar ao redor como quem vê
E silenciar também como quem ama.
Éramos muitos? Ah, sim
Eram muitos em mim."
Hilda Hist
A criança quando desvela o real por meio de seu olhar inaugural, quando vê o seu mundo através da sua ótica infantil, é naturalmente capaz de subverter ou reinaugurar a aparente ordem das coisas do mundo adulto, da sociedade contemporânea e da vida atual. Crianças são doutoras em “invencionices”, sabem como ninguém ser “arteiras” e estão sempre a reinventar o cotidiano, são livres para experimentar diferentes possibilidades.
“A arte pode
elevar o homem de um estado de fragmentação a um estado de ser íntegro, total.
A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a
suportá-la como a transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais
humana e mais hospitaleira para a humanidade. A arte é uma realidade social. A
sociedade precisa do artista, este supremo feiticeiro, e tem o direito de
pedir-lhe que ele seja consciente de sua função social. Mesmo o mais subjetivo
dos artistas trabalha em favor da sociedade. Pelo simples fato de descrever
sentimentos, relações e condições que não haviam sido descritos anteriormente
[...], representa um impulso na direção de uma nova comunidade cheia de diferenças
e tensões, na qual a voz individual não se perde em uma vasta unissonância.”
(Fischer in A Necessidade da Arte.)
Imbuídos de um olhar infantil que interpela os sentidos, desloca
significados, e perturba o conhecimento do mundo que nos é familiar, estamos
sempre trabalhando a nossa transgressão criadora através de experimentações artísticas.